Eu sou completamente apaixonada por livros no gênero romance LGBTQIAPN+, e se me falarem que tem algum casalzinho não-hetero, eu já estou pronta para ler!
E foi por isso, e também pela indicação da Amazon, admito, que eu descobri o livro “A Palavra Que Resta”.
Sinceramente, devorei a história em uma semana. São pouquíssimas páginas e de uma leitura muito próxima da linguagem falada. Por isso, indico a leitura para quem quer começar a ler mais.
Quer entender mais sobre a história? Confira abaixo a sinopse do livro, minha resenha sincera e o final explicado (cuidado, tem spoiler)!
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Qual é a sinopse?
- ✍️ Autor: Stênio Gardel
- 🏳️🌈 Gênero: Romance gay
- 📖 Número de páginas: 160
- 🏆 Prêmios: National Book Award for Translated Literature
- ⭐ Avaliação na Amazon: 4,6/5
- 💰 Onde comprar: Amazon
“A Palavra que Resta” é um romance LGBTQIAPN+ escrito pelo autor cearense Stênio Gardel.
O livro conta a história de Raimundo, um homem analfabeto que, aos 71 anos, decide aprender a ler para finalmente descobrir o que tem escrito em uma carta que ele guarda há 50 anos.
A história acontece em uma mudança dos pensamentos de Raimundo entre seu passado, futuro e presente.
Ao longo dos seus devaneios e seus desafios aprendendo a ler, vamos lidando com temas como a sexualidade, o amor, o abandono, o preconceito e a busca por identidade e aceitação na sociedade.
O estilo de Gardel é marcado por uma prosa poética que alterna entre a narração em terceira pessoa e a voz em primeira pessoa de Raimundo.
O texto é construído como um fluxo de pensamentos do protagonista, em um estilo que lembra o de José Saramago.
A linguagem é direta e carregada de emoções, revisitando as dificuldades do analfabetismo e as nuances da vida de Raimundo em uma sociedade que rejeita sua identidade.
Onde comprar “A Palavra que Resta”?
Pela minha experiência, eu comprei o livro A Palavra que Resta na Amazon, porque eu assino o Prime e assim a entrega é sempre bem rápida.
Na época que comprei o livro, eu paguei cerca de R$ 20, mas já te aviso que o valor subiu bastante. Provavelmente pelo sucesso!
Mas, vamos combinar né? Aqui entre nós aficcionades por leitura, é sempre bom valorizar escritores brasileiros.
E ainda, um escritor nordestino!
Por isso, vocês podem conferir os preços do livro na Amazon clicando no botão abaixo:
Da última vez que conferi os valores, o livro estava custando cerca de R$ 50 com o frete grátis (consultado no dia da produção deste artigo – 20/10/2024).
Minha resenha sincera sobre o livro
Não vou recorrer aqui apenas à minha opinião para afirmar que este livro é incrível, extremamente sensível e delicado.
O livro venceu o prêmio National Book Award nos Estados Unidos, em 2023, devido à sua versão traduzida para o inglês – The Words that Remain.
Só por aí, já percebemos a relevância do título, não é?
Sem contar as inúmeras indicações que recebi dele através da hashtag #BookTok.
Mas além da premiação, quando se trata da história, nós já começamos conhecendo o protagonista Raimundo em um cenário muito familiar para nós brasileiros.
Afinal, Raimundo é um homem de 70 anos analfabeto que começa a ter contato com a leitura e a escrita quando decide se inscrever em uma turma de ensino para pessoas mais velhas.
Não é incomum pessoas dessa idade terem vergonha do analfabetismo, mesmo sabendo que essa realidade cruel é fruto da desigualdade social e da falta de acesso à informação em muitas regiões do país.
E com o caso de Raimundo, não é diferente.
Ele não só tem vergonha de não saber ler, como também guarda uma carta que recebeu há 50 anos e nunca conseguiu decifrar o que diz.
Isso porque ele não a lê, mas também nunca permitiu que outra pessoa a abrisse.
E é aí que descobrimos um novo personagem: Cícero, o autor da carta e amor de juventude de Raimundo.
Conforme navegamos pelos pensamentos de Raimundo, entendemos que ele e Cícero se conheceram em um cenário de muito trabalho no campo, de muita pobreza e claro, muito machismo e heteronormatividade – em uma época que nem mesmo essas palavras eram trazidas à discussão.
Ou seja, ali naquela época nem eles mesmos entendiam como um sentimento de amizade passou a se tornar desejo, e obviamente não podiam conversar com ninguém sobre isso.
Os dois vão levando esse amor escondido por um bom tempo até que as coisas desmoronam porque o pai de Raimundo descobre a relação e os afasta para que ela não aconteça novamente.
Nesse contexto, os jovens planejam uma fuga e pretendem viver esse amor juntos e combinam de se encontrar para irem embora.
É aí que Cícero não aparece no dia da fuga e deixa apenas uma carta, que Raimundo não consegue ler.
A partir daí somos levados pelo livro a entender como foi a trajetória de Raimundo décadas depois, tentando conviver com a carta não lida, com as palavras não compreendidas.
Acompanhamos ele também lidando com sua sexualidade ao longo da vida, ora em momentos abraçando sua identidade, ora em momentos reproduzindo os mesmos preconceitos que te massacraram.
Depois de passar décadas inteiras aceitando o que a vida dá, indo trabalhar na cidade grande e tentando esconder quem é, Raimundo encara finalmente o medo de aprender a ler, mas ainda guarda o medo de ler aquela carta.
Não só as surras que ele levou do pai, como também outras histórias da sua família que terminaram em tragédia, tudo isso construiu nele uma barreira que torna sua sexualidade e a aceitação de si inacessíveis.
Enfim, o livro vai em indas e vindas nos pensamentos de Raimundo, na história de seu tio, seu pai, tudo para que póssamos compreender exatamente o porquê de Raimundo ser como é, e também, de humanizarmos ele, ao invés de culpá-lo.
Ah, vale pontuar aqui uma coisa que particularmente achei muito interessante e de uma escolha sagaz: o livro é retratado em forma de oralidade.
Isso significa que muitas vezes a escrita do livro não é perfeita ou linear, tem quebras e interrupções, parágrafos sem terminar e começando bem depois, além de expressões genuinamente comuns na oralidade brasileira.
Escolha inteligente, já que quem nos conta a história é uma pessoa recém-alfabetizada, não é mesmo? E foi inspirada no estilo de José Saramago.
Além disso, essa escrita condiz com o próprio momento que o protagonista está passando: por uma turbulência de pensamentos e ideais caóticas e misturadas com seu medo e ansiedade de ler a carta, tudo junto de uma só vez.
Enfim, toda essa estrutura faz o livro nos deixar imersos na história.
E assim nós sonhamos com o Raimundo, choramos e rimos com ele, temos raiva dele em alguns momentos, mas tudo isso faz parte da complexidade que é ser um humano.
E, por isso, achei este livro tão incrível e profundo!
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Afinal, o que tinha na carta?
A carta, escrita por Cícero, é o ponto central da trama. Mas ao fim do livro, não descobrimos qual é o conteúdo dela.
Se você quer um final melhor explicado, eu posso te ajudar.
Ao final da narrativa temos um trecho em que Raimundo diz:
“Eu tinha carregado a carta e ela que me trouxe até ali.”
E esse, para mim, foi um final belíssimo e muito coerente com toda a história.
Isso porque percebemos que o conteúdo da carta em si não importa, o que importa é o que ela proporcionou a Raimundo.
Na prática, a carta era uma despedida, uma saudade, uma representação de tudo aquilo que Cícero e Raimundo não puderam viver.
E como o próprio nome do livro diz, a palavra que restou foi a única coisa que manteve o vínculo entre os dois forte, sempre trazendo Cícero de volta à mente de Raimundo, e, ao mesmo tempo, sempre tão distante dele.
Foi graças à carta que Raimundo entrou na jornada desafiadora de aprender a ler e escrever.
E no fim, foi realmente Cícero quem o ensinou a ler, como ele havia prometido no passado.
A Palavra que Resta vai ter filme?
- ✅ Sim, vai ter filme!
- 🎥 Direção: Fernando Nogari
- 🍿 Adaptação: Pródigo Filmes
Sim. Mesmo sendo um título tão recente, A Palavra Que Resta já está com uma adaptação para o cinema confirmada.
O autor revelou que os direitos da adaptação do livro foram adquiridos ainda em 2021, mesmo ano de lançamento do livro. Sucesso né?
Até agora, o que sabemos é que a adaptação será feita pela Pródigo Filmes, com direção de Fernando Nogari.
Sabemos também que o roteirista Armando Praça também vai assinar a obra.
Porém, desde então não temos mais informações sobre data de estreia, elenco ou local das gravações.
Ficamos na ansiedade aguardando!
Enquanto isso, aproveite para conferir também sobre o famoso livro Vermelho, Branco e Sangue Azul, que já foi para o cinema e está disponível para assistir no Prime Video.