O livro Ensaio sobre a Cegueira é um dos clássicos da literatura portuguesa e foi escrito por José Saramago, que nos apresenta a uma história forte, repulsiva e nos dá um soco no estômago. É uma importante literatura para nos levar a reflexão.
Quem é você quando ninguém te vê? Quais são seus limites quando não há civilidade e as exigências comuns da sociedade? Essas são umas das perguntas que Saramago deixa com essa história impactante.
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📌 Informações Importantes:
Título: Ensaio sobre a Cegueira
Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Ano: 1995
Páginas: 312
O livro Ensaio sobre a Cegueira retrata a história de uma sociedade em sua rotina normal que, de repente vivencia uma epidemia de cegueira contagiosa.
O primeiro personagem da história nos apresenta à situação quando, no meio do trânsito, se vê tomado por uma cegueira repentina e completamente branca – o que é diferente do que os cegos normalmente relatam, que veem uma cegueira preta.
Sem saber do que se tratava, o Primeiro Cego (é assim que o autor passa a identificar o personagem a partir de então) procura um médico oftalmologista para compreender e resolver seu problema, mas a cegueira começa a contagiar a todos.
Como uma forma de controle, o Governo decide instaurar uma quarentena para os cegos. Todos que cegaram ou pessoas que entraram em contato com os cegos são mandados para um manicômio antigo e inutilizado, isolado.
A parte interessante da história é que há uma única mulher que não foi acometida pela cegueira: a mulher do médico oftalmologista. Ela mantém sua visão intacta durante a epidemia e por isso ela é tão essencial para compreender a mensagem que José Saramago quer passar no livro.
A mulher do médico decide, então, acompanhar o marido ao manicômio para garantir que ele ficaria bem, mas ninguém a sua volta sabe que ela pode enxergar.
Porém, com uma cegueira contagiosa e tão fácil de se alastrar, a sociedade basicamente abandonou os cegos como lixo, em um local com péssima estrutura de saneamento básico, comida racionada poucas vezes ao dia e cada vez mais cegos lutando pelos dormitórios.
Nessa situação de escassez de recursos e abandono pelo Estado, o autor nos apresenta à dolorosa realidade de quem os ser humanos são verdadeiramente, o quão cruel podemos ser quando não há julgamento ou consequências para nossos atos.
As coisas começam a sair do controle no manicômio e a narrativa aborda disputas irracionais por comida, assassinatos, estupros e brigas, inclusive canibalismo. É um livro muito forte de se engolir, mas necessário. 🤢
A partir disso, Saramago nos apresenta aos personagens principais:
A partir daí, é pela visão da mulher do médico que acompanhamos as formas como cada um desses personagens encara a epidemia, como todos eles tem alguma relação entre si e todos os desdobramentos da falta de civilidade no manicômio.
A imagem acima foi retirada de uma cena do filme Ensaio sobre a Cegueira (2008), inspirado no livro de José Saramago.
O Ensaio sobre a Cegueira é um livro chocante, angustiante e muitas vezes repulsivo, com trechos fortíssimos. Ao contrário de outros romances de Saramago, não há nenhum alívio cômico ou momentos em que a situação se torna mais branda.
A todo tempo o livro parece progredir para o pior cenário possível, com acontecimentos cada vez mais brutais. A história é tão detalhista que, mesmo que saibamos que é uma ficção, em nenhum momento a narrativa parece distante da realidade.
O livro é narrado em terceira pessoa de forma onisciente e o primeiro ponto interessante da escrita de Saramago é que nenhum dos personagens é nomeado. Só os conhecemos por suas características principais.
Esse artificio é uma forma de Saramago universalizar a obra, mostrando que o discurso moral abordado pode ser discutido em qualquer lugar, pois não se trata de um problema geográfico, mas uma natureza ruim intrínseca de todo ser humano.
Todo o contexto de Ensaio sobre a Cegueira nos leva a refletir sobre como nos falta o senso de coletivismo e como podemos nos tornar a pior versão de nós mesmos quando não temos mais nada a perder.
Como o próprio Saramago fala em uma entrevista: “Nós, como seres humanos, não somos bons e é preciso termos coragem para reconhecer isso.” Com isso, Saramago deixa claro que para entender completamente a ideia do livro é importante fazer a leitura com um olhar para o outro e para si mesmo e cada personagem se responsabiliza por nos levar a um questionamento diferente.
Com o Velho da Venda Preta e a Rapariga dos Óculos Escuros podemos refletir sobre quais são nossos padrões e exigências para o que chamamos de amor e companheirismo em uma sociedade tão imagética. Será precisaríamos parar de ver para enxergar a real essência de alguém? Até que ponto nossas relações não são pautadas pelas imagens que construímos e vemos dos outros e não pelo que as pessoas realmente são?
Já o Rapazinho Estrábico nos leva a questionar sobre quem nós somos e como formamos nossa identidade em meio ao caos de informações que a sociedade está constantemente nos bombardeando. Quem nos tornamos a partir das relações que possuímos? O garoto chega ao manicômio atordoado, confuso e desesperado por sua mãe, passa a se tornar uma massa passiva recebendo o consolo de outro colo substituo materno e simplesmente aceita o que a vida lhe dá, sem hesitar, sem esperanças.
O grupo de cegos que passa a comandar o manicômio (o Cego da Pistola junto ao Cego da Contabilidade e outros companheiros) nos leva a um dos mais profundos questionamentos do livro: quem nós somos quando temos vantagem ou poder sobre o outro? O que somos capazes de fazer quando não há limites, consequências e julgamentos? Será que gostaríamos de descobrir essas verdades sobre nós mesmos?
Enquanto isso, a Mulher do Médico cumpre praticamente o papel da ética. Enquanto tantos personagens e aproveitam de suas vantagens e habilidades para explorar os outros, a mulher do médico está sempre buscando ajudar o próximo, sempre compreendendo e perdoando as pessoas, pensando no coletivo e nunca somente em si mesma. Afinal, ela era a única que enxergava, poderia simplesmente cuidar do que é seu e não se importar com mais ninguém.
E ao fim da história nos surpreendemos com a mensagem passada por Saramago. Quando toda a cidade já está tomada pelo caos e não há mais separação entre doentes e sãos, pois estão todos cegos, é que a sociedade retratada passa a se tornar um pouco mais humana.
As disputas por território dão espaço ao respeito pelo lar do outro e mesmo que cada um siga em busca de sua própria sobrevivência, as pessoas passam a compreender que não há mais motivo de uma hierarquia de poderes e brigas sem motivos.
Terminamos a leitura com um lembrete necessário deixado pela mulher do médico: Queres que te diga o que penso? […] Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem”.
E assim compreendemos que toda a história se trata de uma cegueira de espírito, de alma, de uma cegueira que criamos para nós mesmos como forma de nos confortarmos e distanciarmos das reais brutalidades de ser humano.
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⚠️ IMPORTANTE: O livro é um pouco complicado para quem não tem o hábito da leitura ou não é acostumado com a escrita de Saramago. Os textos não são escritos de forma direta.
Muitas vezes o autor não usa recursos como parágrafos, pontos de interrogação e aspas. Por esse motivo, eu preferi interromper a leitura e continuar por um audiolivro (clique aqui para ouvir).
E aí, você já leu o livro? Gostou da resenha? Se você tem mais alguma observação ou opinião que não foi abordada na resenha do Ensaio sobre a Cegueira, deixe seu comentário!
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