No filme romântico My Blueberry Nights, de 2008 (Um Beijo Roubado, em português), a cantora Norah Jones interpreta Elizabeth, uma mulher que acaba de romper um relacionamento e parte em uma viagem para esquecer seu passado.
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Em Nova York, Jeremy (interpretado por Jude Law) administra uma pequena lanchonete de café e doces, quando sua vida se cruza com Elizabeth (Norah Jones), que chega ao local irritada pois descobriu que seu ex namorado a traía com uma mulher exatamente ali.
Após descobrir a traição, Elizabeth rompe o namoro e deixa um molho de chaves na loja de Jeremy, para caso seu ex as queira de volta. Com um misto de esperança e apego aos antigos hábitos, a protagonista retorna ao coffee shop várias vezes esperando encontrar seu ex. Ao criar essa rotina, ela e Jeremy começam a se sentir atraídos.
Com medo de se apaixonar e sofrer novamente, Elizabeth parte em uma viagem pela América sem fazer nenhum contato com Jeremy, em busca de novas experiências e para esquecer o sofrimento do seu passado. Lá ela conhece diferentes pessoas e histórias, que a ajudarão em sua jornada de autoconhecimento.
Por ter Wong Kar Wai como diretor, conhecido pelo filme “Amor à Flor da Pele”, já podíamos esperar que Um Beijo Roubado fosse um filme cult com uma forte mensagem. Infelizmente, não foi o que aconteceu. “My Blueberry Nights” não agradou tanto as críticas e desapontou o público por ter um elenco tão rico e uma trama mal desenvolvida. 😕
Assim como “Amor à Flor da Pele”, a história carrega uma temática poética em que as cores e objetos têm muitos significados, indo muito além com as montagens cinematográficas. Contudo, os coadjuvantes não têm suas histórias muito bem desenvolvidas e a narrativa fica meio diluída, sem muitos rumos.
O filme tem um ar melancólico e angustiante, falando sobre amores não correspondidos e tendo enorme familiaridade com momentos da nossa vida comum, porém, não agrada a todos os gostos e pode ser melhor compreendido por quem gosta de histórias com a temática do isolamento e desencontros.
Durante a narrativa, percebemos a forte presença das cores azul, vermelho, verde e amarelo.
A cor amarela geralmente transmite a sensação de alegria, energia e otimismo. Porém, poucas pessoas sabem que quando essa cor é utilizada em uma iluminação de ambiente, ela tem o potencial de transmitir a sensação de conforto e aconchego.
Já o vermelho, geralmente associado a situações de energia e entusiasmo, no filme é ressignificado quando o autor aplica uma iluminação avermelhada para representar situações íntimas, como os momentos em que Arnie e Sue Lynne desabafam para Elizabeth.
Esse efeito é responsável por causar uma sensação de intimidade com o espectador sem reduzir a intensidade da história contada pelo personagem.
Principalmente para quem é brasileiro, o sabor da torta ser o mirtilo parece um pouco estranho, pois não estamos acostumados com essa fruta em terras tupiniquins.
Porém, a escolha do blueberry não é à toa, já que ela é a única fruta azul por natureza e que é melhor cultivada em clima frio com solos ácidos, simbolizando o momento angustiante autoflagelante vivido pela protagonista após o término de um relacionamento.
A cor azul do mirtilo representa a tristeza, o vazio e a fuga da realidade. Assim, a torta de blueberry é a forma que Elizabeth encontra para descontar o sofrimento causado pelo relacionamento anterior, em que cada pedaço digerido é um pouco de sua dor indo embora.
Na cultura asiática, a simbologia da chave é mais complexa do que as funções comuns que damos ao objeto. Como o filme é dirigido por alguém dessa etnia, podemos observar que as chaves deixadas na loja de doces têm uma ideia de “abrir portas”, destravar coisas”, representando a tomada de uma decisão, uma mudança ou a resolução de enigmas e situações difíceis.
Notamos essa simbologia no filme o tempo inteiro. Isso porque vários personagens, por motivos diversos, deixam suas chaves com Jeremy. Em alguns momentos ela pode representar decisões difíceis que serão tomadas pela protagonista ou o fim de um ciclo na vida dos personagens.
Em outras cenas, a chave simboliza um passado sendo deixado para trás, como quando Elizabeth não volta para buscar sua chave no bar – essa atitude significaria que ela está se rendendo a uma fraqueza, tendo uma recaída.
De qualquer forma, é interessante notar como Jeremy não só coleciona as chaves, como sabe a história de cada uma delas, mesmo que estejam em sua loja há anos. Ele é apegado aos detalhes da vida, os encontros e desencontros.
Como nada é feito por Wong Kar Wai por acaso, podemos observar a partir da semiótica as seguintes construções de narrativa:
Além desses pontos, não podemos esquecer de uma das cenas mais marcantes do filme, quando Jeremy e Elizabeth se beijam e as cenas da torta de sorvete tomam a tela com recheios derretendo.
Essa montagem remete a um vulcão entrando em erupção, como se os sentimentos dos dois que ficaram guardados por tanto tempo, finalmente tivessem se libertado e encontrado.
Já reparou que Elizabeth e Jeremy trabalham somente em bares, restaurantes e cafés durante todo o filme? Essa escolha do diretor é porque nesses locais os personagens encontram conversas íntimas, desabafos e relações intensas, mas rápidas, sem um vínculo muito profundo.
Quando Elizabeth estava magoada e decide viajar, ela passa a trabalhar em bares/restaurantes onde passa a ter contato com outras histórias de vida, que ajudam a reconstruir a sua própria história.
As pessoas que ela encontra, ao contarem suas desilusões, a ajudam a entender as suas próprias decisões, de forma que ao fim da viagem ela compreendeu e aceitou todos os acontecimentos de sua vida.
Em contrapartida, Jeremy gostava de viajar com sua ex-namorada e tinha sonhos visionários para o seu futuro. Mas ao abrir o bar com sua antiga parceira, ele começa a colecionar chaves e quando ela o deixa sem explicação, ele decide ficar no bar à espera de sua volta.
Ou seja, para Jeremy, fica no bar foi uma decisão de conformismo, como se ele usasse o fato de ser dono da loja como uma desculpa para esperar a pessoa amada voltar.
Assim, os dois protagonistas agem como observadores de histórias de vida de outras pessoas enquanto tentam entender as suas próprias.
O filme “My Blueberry Nights” está disponível para assistir na Amazon Prime Video, basta procurar pelo nome Um Beijo Roubado, que é a tradução do título para o Brasil.
A plataforma Prime Video custa R$ 9,90 por mês e geralmente libera o primeiro mês de uso gratuito.
Repleto de músicas calmas e com uma pegada de jazz, “Um Beijo Roubado” tem uma trilha sonora com 14 faixas melancólicas.
Todas são ótimas para ouvir tomando um vinho ou lendo um bom livro, incluindo uma faixa da própria Norah Jones. Confira a lista de músicas abaixo:
E aí, gostou da análise semiótica de “My Blueberry Nights” – Um Beijo Roubado? Tem outra observação que não foi citada no artigo? Deixe seu comentário! ❤️
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